Carina Bacelar
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 16:58h.
Se você ainda não fez uma entrevista com IA, estar em uma é só uma questão de tempo. Que cada vez mais processos seletivos usam recursos de inteligência artificial para fazer a triagem de candidatos não é novidade. Mas a tendência é que até as conversas iniciais, que normalmente ocorrem com a equipe de recrutamento e seleção, sejam delegadas a essa nova tecnologia.
Por isso, fiz uma entrevista com IA, e agora conto em detalhes como foi essa experiência que, apesar de um pouco inusitada, foi até bem tranquila. E trago ainda dicas da Patrícia Aguiar, especialista em Seleção e Recrutamento, com passagens por empresas como Ambev e Fundação Estudar.
Como em outra entrevista de emprego online qualquer, recebi um link. Fui avisada que a IA se chamava Ana. Não sei se lembrei do nome dela ao longo da entrevista, até porque você não precisa usar vocativos para se comunicar com sua entrevistadora artificial.
Ao abrir o link, me deparo com uma página comparável à sala de espera de um Microsoft Teams ou um Zoom. Nessa hora, é importante seguir comandos propostos para testar o microfone e o áudio, principalmente.
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Minha entrevista não teria câmeras, o que foi até bom, porque não precisei me “arrumar” ou procurar um canto bem iluminado na sala. Mas você pode precisar fazer uma entrevista com IA em que imagens sejam gravadas, então é bom não perder isso de vista.
No meu caso, o importante era me assegurar de que estava em um ambiente silencioso. Isso é especialmente importante quando falamos de IAs, porque nossa fala durante o bate-papo precisa ser bem registrada, apesar de podermos sim manter o tom natural e conversacional.
A primeira parte da entrevista, com 20 minutos, teria um foco comportamental, como anunciou a minha entrevistadora. Ali, o importante era que eu registrasse com clareza minhas experiências, os desafios que eu enfrentei, os resultados que eu obtive e como eu reagi em casos da vida real.
Primeiro, ela me pediu para descrever a minha trajetória. Como já fiz entrevistas dezenas (talvez) centenas de vezes desde que comecei a trabalhar, em 2010, já tenho um pitch na ponta da língua. Não me senti estranha em nenhum momento, e confesso que não ter a imagem me deixou ainda mais focada no conteúdo do que eu estava dizendo.
Uma das questões, por exemplo, foi sobre uma situação profissional em que eu precisei “aprender algo muito rápido”. Na questão seguinte, ela me pediu para falar sobre como “eu facilitei esse aprendizado” na época.
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Isso é um padrão que observei: a minha entrevistadora artificial sempre me pedia para introduzir um ponto: um desafio, um aprendizado que precisou ser rápido, um resultado de impacto para a empresa, um problema que eu precisei resolver. Em seguida, ela me perguntava como cheguei em cada uma das soluções ou resolvi o que precisava ser resolvido. Entendi como uma oportunidade para detalhar as estratégias e ferramentas que usei.
Um dos meus grandes receios era não ser entendida, mas minha entrevistadora me deixou bem tranquila em relação a isso, até mais que muitos humanos com quem já tive que conversar em contextos parecidos. Depois de toda resposta, por exemplo, ela sempre agradecia e resumia o que eu falei, assegurando que estava entendendo.
“Essa maturidade emocional certamente fortalece seus próximos passos”, me respondeu, ao comentar a minha resposta sobre um problema que precisei resolver. “Excelente, um aumento de 20% das doações é um resultado bem concreto”, trouxe em outra ocasião, em cima de uma resposta em que eu citei minha atuação como social media em uma ONG no México, durante um intercâmbio.
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Em todos os momentos, ela manteve um tom conversacional e orgânico. De fato, soava como uma pessoa com um tom otimista e empático. O jeito como ela retomava informações que eu ia citando, mas sem nunca repetir literalmente o que eu falei, me deixou mais tranquila.
Um ponto importante: a entrevista pré-determinava 20 minutos de duração. Eu imagino que, se eu tivesse um branco ou demorasse muito para engatar uma resposta, algumas perguntas ficariam de fora. Ou então ela pediria para que eu fosse mais rápida, o que não foi preciso.
A segunda etapa da minha entrevista era um teste de lógica, e desde o início Ana me explicou que proporia duas situações desafiadoras nos 20 minutos seguintes, e que iria avaliar como eu penso com a pressão do tempo.
“Não se preocupe em dar a resposta perfeita, o importante é me contar o que você está pensando durante o processo. Tudo bem por você?”, perguntou. Então foi exatamente isso que tentei fazer.
No final, achei os 20 minutos até bastante tempo, para formular minhas resposta. Acredito que é legal entrar em detalhes, mas sem exagero. É sobre sempre contar uma historia com contexto, decisão e justificativa – ao longo de toda a entrevista.
Patrícia Aguiar diz que, hoje, as entrevistas com IA ainda estão em fase de testes, com resultados revisados e validados por seres humanos. “Enquanto as empresas estão migrando para uma solução dessas, estão fazendo um teste comparativo antes”.
No entanto, na opinião dela, a experiência de ser entrevistado por uma IA não deve ser tão diferente de conversar com um bom entrevistador.
“Uma coisa que talvez seja até melhor no caso da IA é que ela consegue processar um número muito grande de informações. Talvez conexões ou informações que um avaliador perderia da interpretação, uma IA vai conseguir, cruzando muito mais critérios com muito mais informações. Isso pode ser bom para o desempenho do próprio processo seletivo”, destaca Patrícia.
Outro ponto de destaque é que as tecnologias são sempre treinadas por humanos, com uma base pré-selecionada. “Se você está treinando uma IA com uma base que pode, por exemplo, carregar viés, obviamente pode ser perigoso também. Mas para quem está adotando uma IA do ponto de vista da empresa, esse é um cuidado”.
A especialista acredita que não existe muita diferença no preparo para uma entrevista de emprego com IA. Ela destaca que é importante:
Patrícia ressalta que as IAs estão treinadas para conversar. Portanto, você pode manter um tom natural e fazer perguntas e pedir para ela repetir questões.
“Eu diria para as pessoas não ficarem com um pé atrás com essa tecnologia nova, porque muita gente boa está estudando isso e as empresas estão sendo muito cautelosas. Existe um olhar humano por trás da performance da máquina”, observa a especialista em seleção.
Seja em uma entrevista com IA, online ou presencial, alguns fundamentos de uma boa entrevista de emprego são sempre os mesmos: se comunicar bem, transmitir a ideia de uma marca pessoal forte e listar suas experiências positivas (e também as negativas) com estratégia.
Por isso o nosso curso gratuito e online Mande bem na entrevista tem ajudado tantos profissionais a conquistarem as vagas que buscam. Nele, você aprende estratégias para se destacar em entrevistas, com foco na comunicação assertiva.
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